Desperto além do túmulo: o que a Bíblia diz sobre o sono da alma

A morte levanta muitas questões: Quando vai acontecer? O que vai parecer? Qual é o destino da alma? Pr. Charles Swindoll aborda esta última pergunta em um dos seus livros:

Quando o crente morre, o corpo vai para a sepultura; a alma e o espírito vão imediatamente estar com o Senhor Jesus aguardando a ressurreição corporal, quando estarão unidos para sempre com o Senhor em felicidade eterna.¹

Infelizmente, muitos temem que suas almas terão de esperar indefinidamente para o céu. O “sono da alma”, a crença de que a alma descansa após a morte em um estado de inconsciência, ou deixa de existir, até a ressurreição final, encontra as suas raízes na metáfora de “dormir” comum para a morte do corpo. Embora esta metáfora apareça nas Escrituras, um estudo aprofundado mostra que a metáfora do sono refere-se apenas ao estado inanimado do corpo após a morte terrena, e não para a alma.

A Palavra garante aos crentes o destino de suas almas na morte:

Portanto, temos sempre confiança e sabemos que, enquanto estamos no corpo, estamos longe do Senhor. Porque vivemos por fé, e não pelo que vemos. Temos, pois, confiança e preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor. (2 Coríntios 5:6-8, ênfase adicionada)

Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Caso continue vivendo no corpo, terei fruto do meu trabalho. E já não sei o que escolher! Estou pressionado dos dois lados: desejo partir e estar com Cristo, o que é muito melhor; contudo, é mais necessário, por causa de vocês, que eu permaneça no corpo. (Filipenses 1:21-24)

Jesus bradou em alta voz: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. Tendo dito isso, expirou. (Lucas 23:46) Jesus, como Filho de Deus, sabia que Ele iria estar espiritualmente presente nas “mãos” do Pai no exato momento da Sua morte, não dormindo na sepultura.

Outros eventos bíblicos deixam claro que não há sono de alma para os crentes, mas sim uma presença consciente e imediata com Deus após a morte:

  • O apedrejamento de Estêvão (Atos 7:54-59)
  • A transfiguração (Mateus 17:1-8; Marcos 9:1-8; Lucas 9:28-36)
  • A alma de Raquel partida quando ela morreu (Gênesis 35:18)
  • Mais duas passagens suportam uma discussão mais aprofundada. Primeiro, João 11:23-27:

Disse-lhe Jesus: “O seu irmão vai ressuscitar”. Marta respondeu: “Eu sei que ele vai ressuscitar na ressurreição, no último dia”. Disse-lhe Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente. Você crê nisso?” Ela lhe respondeu: “Sim, Senhor, eu tenho crido que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo”.

Observe Jesus corrigiu a crença de Marta que seu irmão “viveria” apenas na ressurreição. Em contraste, Jesus revelou que os crentes vão viver mesmo se eles morrerem, e de fato, eles nunca vão morrer da mesma forma que nossos corpos fazem.

A segunda passagem vem da escrita de Pedro:

Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito. (1 Pedro 3:18)

Os crentes, no momento da salvação, são “crucificados com Cristo”, e porém ainda vivem (Gálatas 2:20). Quando o corpo terrestre do crente morre, ele continua a viver espiritualmente. Através da fé em Cristo, os crentes foram vivificado pelo Espírito, assim como Jesus vive no Espírito. Nós que professamos a Cristo não somos destinados para o sono da alma ou à sepultura!

Podemos resolver muitos dos conflitos de interpretação que cercam a questão da morte, simplesmente manter o estado inanimado do corpo terrestre físico após a morte completamente separada da vida espiritual da alma e local à parte do corpo.

Um evento bíblico chave que suporta isso, mas às vezes é mal compreendido, é a conversa de Jesus com o ladrão na cruz. Jesus diz ao ladrão que estava morrendo ao Seu lado que seus espíritos estariam juntos, vivos e conscientes naquele dia. No entanto, alguns argumentam que a pontuação está mal colocada em Lucas 23:42-43. Em vez de:  “Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso”, dizem eles que, na verdade, Jesus disse: “Eu lhe garanto hoje: Você estará comigo no paraíso”. Mas a Bíblia não inclui nenhuma outra instância de Jesus dizendo: “Eu digo a você hoje”. Isso contribui para a probabilidade de que, como todas traduções indicam, Jesus estava enfatizando que hoje era o tempo que Ele e o ladrão estariam juntos no paraíso. E ainda na declaração de Jesus: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”, aponta para o Seu estar espiritualmente na presença de Deus imediatamente após a morte.

Outro evento bíblico que às vezes é mal interpretado é a visita de Saul à médium de En-dor. Alguns acreditam que Saul convocou o espírito de Samuel, que o espírito dele subiu do chão, e que Samuel estava com raiva porque seu sono foi perturbado. No entanto, o sono não é mencionado na passagem. O texto apenas diz: “Por que você me perturbou, fazendo-me subir?” (1 Samuel 28:15). Além disso, como Thomas Constable observou: “Esta passagem não diz que a bruxa trouxe Samuel dos mortos. Deus revelou Samuel a Saul”.²

Nós não sabemos exatamente onde Samuel estava antes de ter sido perturbado, mas sabemos que ele disse a Saul que o rei e seus filhos estariam com o profeta no dia seguinte (28:19). Isso não seria muito significativo se suas almas fossem apenas dormir depois que morressem. Pelo contrário, é mais provável que Samuel queria dizer que eles estariam todos conscientes que seus espíritos encontrariam-se um ao outro no dia seguinte.

Em Lucas 16:19-31, Lázaro e o rico estavam no “seio de Abraão” e “Hades” depois de suas mortes. Mas alguns leitores concluem que esses “lugares de espera” indicam que nossas almas vão esperar no céu em lugares semelhantes. Na verdade, esta história, contada pelo próprio Jesus, ensina que a alma não está dormindo, mas viva e consciente após a morte e antes da ressurreição corporal. Aliás, esta é a única vez que a frase “seio de Abraão” aparece na Bíblia. “Seio de Abraão” era uma expressão referindo-se ao “paraíso” que Jesus antecipava após a Sua morte.

Alguns se perguntam se vamos reconhecer nossos entes queridos no céu ou se nossos espíritos estarão sem forma como um fantasma ou uma pequena nuvem, mas essas passagens sugerem que teremos uma forma corpórea. A Bíblia não nos dá detalhes, mas várias passagens sugerem que teremos corpos intermediários reconhecíveis.

Lewis Sperry Chafer refere-se a 2 Coríntios 5:1-5 quando ele explica que “o conceito de um corpo intermediário entre a morte e a ressurreição”:

No presente momento os crentes estão em uma “habitação terrena” (v. 1), mas eles anseiam por sua “habitação celestial” (v. 2). As referências aos crentes após a morte, porém antes da ressurreição, parecem sugerir que eles têm um corpo, como no caso de Lázaro (Lucas 16:19-25). Quando Moisés e Elias se encontraram com Cristo no Monte da Transfiguração, eles foram representados como tendo corpos (Mateus 17:1-3; Marcos 9:4; Lucas 9:30). Em Apocalipse 6:9-11 [e 7: 13-17] os mortos martirizados… são representados como usando mantos e estando diante do trono de Deus. Embora a revelação plena não tenha sido dada na Bíblia sobre as características exatas de tais corpos, aparentemente, eles não serão adequados para a eternidade pois eles serão substituídos pelos corpos da ressurreição.³

Este estado consciente e intermediário não é um lugar de limpeza intermediário entre o céu e a terra, como o purgatório, cujo conceito não é encontrado na Bíblia e que contradiz o evangelho. Pelo contrário, é um corpo temporário e intermediário entre o momento de nossa morte e a ressurreição, que acontecerá quando Jesus voltar.

A Bíblia não só nos assegura do destino da nossa alma; a Palavra de Deus também oferece uma visão sobre o futuro do nosso corpos terrestres físicos, que serão ressuscitados no arrebatamento. Paulo escreveu que nós (Romanos 8:23-24) “espera[mos] ansiosamente… a redenção do nosso corpo. Pois nessa esperança fomos salvos”. Infelizmente, muitos que acreditam no sono da alma confundiram a ressurreição de nossos corpos terrestres e a vida espiritual após a morte. Em relação ao corpo terrestre e seu significado após a morte, a Escritura diz: “ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, pois o veremos como Ele é”. (1 João 3:2). Os detalhes exatos disso permanecerão um mistério; no entanto, sabemos que estaremos fisicamente ressuscitados no arrebatamento (João 5:29; Atos 24:15; 1 Tessalonicenses 4:13-18). Sabemos também que os nossos corpos ressuscitados serão diferentes em alguns aspectos do que nossos corpos atuais (1 Coríntios 15: 45-49) e adequados para a eternidade.

Podemos aprender sobre os nossos corpos ressuscitados por considerar o corpo de Jesus após a Sua ressurreição. Sabemos que Jesus comeu e bebeu, que os discípulos poderiam tocá-lo, e que Ele tinha carne e ossos ainda podia se mover à vontade sem limitações físicas. “Vejam as minhas mãos e os meus pés. Sou eu mesmo! Toquem-me e vejam; um espírito não tem carne nem ossos, como vocês estão vendo que eu tenho” (Lucas 24:39). Se o corpo ressuscitado de Jesus podia fazer todas essas coisas, os nossos corpos ressuscitados provavelmente irão também.

Medos e dúvidas sobre a morte são naturais, mas a Bíblia oferece a paz. Os crentes podem tomar coragem na certeza de que o descanso que Deus fornece para nós após a morte é muito melhor do que qualquer chamado “sono da alma”. Enquanto a morte é triste e dolorosa, para aqueles que conhecem a Cristo, o tempo além da morte traz consigo uma esperança maravilhosa. Para os cristãos, a morte significa que finalmente estaremos imediatamente face-a-face com o nosso Pai.

  1. Charles R. Swindoll, Growing Deep in the Christian Life: Essential Truths for Becoming Strong in the Faith (Grand Rapids: Zondervan, 1995), 308.
  2. Thomas L. Constable, Notes on 1 Samuel (Dallas: Sonic Light, 2013), 115, http://www.soniclight.com/constable/notes/pdf/1samuel.pdf (accessed May 28, 2013).
  3. Lewis Sperry Chafer, Systematic Theology, vol. 2, abr. ed. (Wheaton, Ill.: Victor, 1988), 507.

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Brian Leicht recebeu o Mestrado de Teologia em Ministérios Pastorais do Seminário Teológico de Dallas. Como Diretor da equipe de Aconselhamento Bíblico dos Ministérios Insight For Living, ele fornece orientação bíblica para os ouvintes, através de correspondência escrita e verbal. Ele também foi pastor de adultos solteiros, reconciliação de casamentos e ministérios de missões por 20 anos. Brian também detém um Mestrado em Performance de Trompete. Ele, sua esposa Bonnie e seus três filhos gostam de se envolver no ministério de louvor e teatro local.