Um Natal cheio de símbolos pra quem gosta de exultar!

O Natal é uma época em que o amor está no ar… Assim fala uma canção natalina, e com razão. Estrelas, sinos, luzes, ramos verdes e música estão por toda a parte anunciando a chegada do Natal. Nessa época festiva até não cristãos se dobram diante da alegria que as celebrações do Natal trazem ao mundo.

É verdade que muitos confundem fervor com glamour, alegria com luxo, devoção com falta de medida. Salvos esses exageros, entretanto, fico feliz em ver que em dezembro, em vários lugares, as casas se transformam para incluir algum sinal de que ali alguém celebra a chegada do filho de Deus.

Há entre nós, os cristãos que são radicalmente contra qualquer símbolo do Natal. A grande justificativa para eles é a de que nada disso se encontra na Bíblia, que são símbolos da cultura atual e, mais que isso, cultura pagã. No entanto, a própria Bíblia é repleta de simbologias formadas na cultura judaica e cristã (importante lembrar que a igreja cristã se formou a partir de judeus e gregos helenistas convertidos, uma grande mistura de culturas e costumes).

Nossa maneira de aprender e apreender é sempre simbólica, as letras são, em si, símbolos que em cada cultura retratam uma mensagem, uma ideia. Quando a Bíblia começou a ser impressa e popularizada, muitos cristãos se revoltaram porque, os ensinos vinham de uma cultura oral, eles tinham medo que as palavras pudessem deturpar o ensino. Hoje já não conseguimos pensar no ensino sem a Palavra Escrita. 

Como cristãos assimilamos vários símbolos. Jesus estabeleceu a ceia como um memorial formado de vários símbolos. “Tomai e comei… este é o meu corpo partido por vós”. Por causa deste simbolismo os primeiros cristãos foram considerados antropófagos, porque pelo simbolismo assumiam estar comendo o corpo de Cristo e bebendo o seu sangue.   Entretanto, mesmo naquele período os símbolos eram considerados mecanismos para a perpetuação de uma ideia. A Semiótica é uma ciência que estuda a construção do significado e como isso se apresenta em cada cultura.

Quem pode afirmar que Jesus nasceu no dia 25 de Dezembro? Ora, a data foi criada com uma finalidade comercial!  Esta é uma afirmação bastante categórica de cristãos avessos às festas Natalinas. Concordo, a data é eletiva, não há um indicador bíblico ou antropológico que garanta que o nascimento de Jesus tenha ocorrido exatamente no dia 25 de dezembro, provavelmente foi bem depois disso. 

Bem, minha mãe (e, creio, todos os seus irmãos) nascida no interior do Pernambuco na década de 1930, numa área rural e com poucos recursos tinha uma data de nascimento escolhida pelo cartório, eletiva.  Para famílias pobres em que uma viagem até a cidade grande era um custo que se devia otimizar, o registro dos filhos acontecia por atacado. Ao chegar no cartório com a filharada toda, o pai não conseguia lembrar quem havia nascido quando. A pessoa que registrava ia então ajudando com datas aproximadas ao longo do ano todo.  

Minha mãe sempre teve uma data de nascimento que foi escolhida pelo cartório, comemorávamos a data do cartório sabendo que não era a data real de seu nascimento.  Entretanto, isso nunca invalidou o fato de que ela havia nascido e sua existência merecia uma festa de celebração. Se hoje descobríssemos que a data verdadeira do nascimento de Jesus tivesse sido em quatro de fevereiro, mudaríamos tudo para celebrar em fevereiro. Fato é que, Jesus nasceu e isso mudou o curso da história da humanidade para sempre. No meu ponto de vista, merece muita, muita celebração. Sendo assim, seguem algumas explicações para as afirmativas mais recorrentes entre cristãos:

O Natal é uma invenção comercial, isso de dar presentes não é bíblico. Nesse caso devemos culpar os magos e não o comércio. Veja, eles receberam o Natal com presentes. Não levaram panetone, farofa e salada de maionese (típico das famílias brasileiras). Os presentes ofertados pelos magos em sua visita ao rei nascido na manjedoura tinham em si uma simbologia e eram presentes de valor naquela cultura. Os magos entendiam que um rei deveria ser reverenciado e bem recebido, e isso se fazia com presentes especiais.

Entretanto, bem antes dos magos, o costume de dar presentes como forma de celebração já estava na Bíblia. No livro de Ester, capítulo 9 de 20 a 32, após uma grande vitória do povo judeu, Mardoqueu determinou que o povo deveria tratar aqueles dias como dias de festa e de alegria “de troca de presentes e de oferta aos pobres” porque a sua tristeza se tornou em alegria (Ester 9: 22). O povo guarda esta tradição como festa até os dias de hoje. Interessante, celebrar era uma determinação, uma ordem a ser seguida para os judeus e não uma opção como é hoje para os cristãos. Celebramos pouco e cada vez mais silenciosamente.

A árvore de Natal é um costume pagão, há relatos de povos que sacrificavam pessoas e colocavam cabeças nas árvores. Pendurar bolas de Natal é uma continuidade modificada dessa prática pagã abominável. A árvore é um símbolo de vida que aparece desde Gênesis (Gênesis 3:2). Jesus se autodenomina como árvore, “eu sou a videira, vós os ramos” (João 15:5) e em Apocalipse (2:7), a árvore volta a aparecer, a “Árvore da Vida” (o próprio Jesus) servirá de sustento para os que vencerem. 

Assim como a cruz que era o símbolo da derrota, a sentença dos piores condenados, para nós cristãos ela se tornou símbolo de redenção e vitória. O pinheirinho é uma árvore que, mesmo em meio ao mais terrível inverno se mostra verdejante e viva. Nos países onde o inverno é intenso, o pinheiro se tornou uma árvore típica para o Natal, pois resiste ao frio e à neve.  O costume de usar o pinheirinho acabou sendo assimilado em países tropicais como o nosso, e algumas pessoas até utilizam uma “neve” para completar o clima. Isso a meu ver é dispensável, temos muita neve no Natal brasileiro só que ela já cai derretida! 

Gosto de ver arranjos Natalinos com galhos secos e cores que lembram a terra, talvez isso seja mais próximo de algumas realidades brasileiras, mas é importante lembrar que mesmo nas regiões áridas do Brasil, basta um pouco de chuva para tudo verdejar rapidamente, ou seja, o árido não é exatamente a nossa realidade e sim uma condição que esperamos superar.

Éramos uma família pobre e não tínhamos costume de colocar uma árvore de Natal (algo muito fora de nosso padrão de vida), mas o nosso Natal era muito celebrado porque estávamos completamente mergulhados na dinâmica de nossa igreja batista em São Caetano do Sul. Em época de Natal, íamos praticamente todos os dias para ensaios de peças e corais. 

No ônibus eu costumava colar o rosto no vidro da janela para ver ao longe a minha árvore de Natal, que na verdade era a torre de uma caixa d’água da montadora de carros GM. Lá em cima da torre uma grande estrela iluminada completava a árvore feita de luzes. As gotas de chuva dificultavam enxergar com precisão, e isso na verdade adicionava um clima ainda mais mágico à minha imaginação infantil. Eu olhava aquela árvore ao longe, tão grande e brilhante, algo que só acontecia uma vez no ano por causa do Natal, e dizia pra Jesus que era o meu presente, aquele era o meu enfeite para a sua festa. Hoje, ao enfeitar minha casa, cada pequeno enfeite é uma oração e um hino cantado. Lembro bênçãos, orações respondidas, pessoas libertas, relacionamentos restaurados, alvos alcançados. O dia de arrumar a casa é um dia de oração intensa, com hinos e músicas alegres, tudo cheio de muito significado. Passei essa tradição aos meus filhos e hoje eles continuam com os seus filhos também. 

Não há referências na Bíblia sobre sinos tocando no momento do nascimento de Jesus. Em tempos de Facebook e WhatsApp em que as notícias chegam à mão (literalmente, porque não descansamos o celular na mesa nunca!), é importante lembrar que nas primeiras comunidades as notícias eram avisadas por meio de sinos. Quando os primeiros templos foram sendo construídos, o sino da torre marcava o horário e comunicava nascimentos e falecimentos, em alguns lugarejos ainda continua assim, que lindo! 

Sinos significam anúncio de algo, para nós o anúncio de boas novas. Quando os pastores estavam nos campos a Bíblia diz que “De repente, uma grande multidão do exército celestial apareceu com o anjo, louvando a Deus e dizendo: ‘Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor’” (Lucas 2:13,14).  Não me parece que Jesus tenha vindo ao mundo “sem causar”!  Nada foi obscuro e simplista. Não, houve muita celebração, mas para poucos. Quando coloco sinos em minha casa, me lembro dos anjos anunciando aos pastores, gente simples, pessoas no exercício do seu trabalho. Penso que o Natal acontece para poucos ainda nos dias de hoje, porque a mensagem do Evangelho é para “homens de boa vontade”, para os que recebem e não para os que estão teologicamente fundamentados.  É necessário ter uma vontade pronta para entender o Natal e a centralidade de Cristo. 

O presépio é uma abominação, pois a Bíblia é clara sobre imagens de escultura (Êxodo 20:4). O texto de Êxodo é claro sobre a adoração a ídolos e concordo 100% com isso, mas para mim, no entanto, o presépio é o símbolo mais importante de uma celebração do Natal. Ali, focamos o fato mais significativo, o nascimento de Jesus. O presépio reúne tudo isso, criança, família, animais, gente que visita, anjos, estrela. Muito embora magos e pastores tenham visitado Jesus em tempos diferentes na história bíblica, o presépio reúne todos esses elementos ao mesmo tempo somente para simplificar. Explico o presépio aos meus netos, e é sempre uma ocasião para colocar cada personagem no seu próprio momento.

Recentemente visitei um museu em São Luís do Maranhão e conheci o mais lindo presépio que já vi; como enfermeira não poderia ter sido melhor. O presépio foi feito por uma artista negra, insiro essa informação pois no presépio que ela fez todos os personagens são negros (o que torna a obra ainda mais especial). Feito em cerâmica (ou argila, não sei dizer, estava admirada demais para os detalhes), o presépio apresenta duas cenas associadas e colocadas de costas uma para a outra. 

Em uma, Maria está dando à luz, o marido está ali ajudando, na outra cena, um presépio comum, o bebê está no colo da mãe, o pai está ao lado, misto de orgulho e despreparo, pajeando a família.  Pastores e vizinhos dividem o espaço com animais de criação. Simplesmente lindo, muito próximo do que deve ter sido na realidade. Eu fiquei ali tirando fotos, completamente perplexa com a capacidade daquela artesã que retratou como ninguém o nascimento de Jesus com estilo e com a marca de sua etnia.

Finalmente o Papai Noel, símbolo da gastança e da glutonaria (aquela pança farta não engana a ninguém…). Preciso confessar que não sou muito fã do Papai Noel, porque para mim, ele anda roubando a cena no Natal. Nos lares onde Jesus não é o centro da celebração, Papai Noel está nas músicas e nas decorações, e Jesus vira o mito. Não em minha casa. Já fui legalista com o velhinho, hoje levo mais na brincadeira. 

A história (ou melhor, lenda) de Santa Claus, ou São Nicolau, é muito bonita e inspiradora. Há muitas versões, mas o que se sobressai em todas elas é o fato de que esse homem era um cristão de posses, muito generoso, uma pessoa que abdicou de seus bens em prol dos outros e que acabou dedicando sua vida ao trabalho religioso. Daí até as renas e outros mitos, há mesmo muito exagero, mas para mim fica o exemplo de uma pessoa generosa. Conheci alguns “Santas” ao longo de minha vida, e isso me ajuda a crer que há um sentido de generosidade bonito e possível na lenda. Pessoas raras que vez ou outra se tornam notórias nos jornais. Lembro-me do tio John (uncle John para os nossos filhos), um velhinho (magro!) cuja generosidade impactou nossas vidas e segue impactando. Mas o Papai Noel glutão, esse não encontra lugar na nossa casa. 

Sinos, estrelas, enfeites… No decorrer de toda a história, foram sendo assimilados e modificados nos mais diversos contextos. Mesmo os judeus, em suas constantes transições políticas e diásporas, tiveram que adaptar seus costumes e suas celebrações conforme a realidade que viviam. Os cristãos passaram por essas adaptações também. Em todo o mundo, os cristãos foram adaptando suas celebrações ao seu contexto local e, sem dúvida, os missionários foram os principais disseminadores dessas tradições. 

Dessa forma, vários elementos foram sendo agregados às  celebrações de Natal, e hoje temos uma variedade de símbolos que têm diversas origens  para representar um mesmo sentido de alegria, paz, a presença de Deus entre os homens.  

O Natal não é mais verdadeiro ou belo quando acontece em clima de inverno e com neve. Temos costumes e símbolos muito bonitos e próprios, por exemplo, em nossa cultura sertaneja. São costumes que contrastam com costumes americanos ou europeus, temos serestas e serenatas, missas na madrugada, brincadeiras de roda no quintal, festejos que se mantêm por muitas gerações resistindo a tudo que tem se oposto à cultura cristã.  Essa resistência alegre e benfazeja do Natal é para mim um ato de fé, um momento de semear luz e de plantar esperança num país que vive sempre às voltas com líderes ateus que sorrateiramente minam a fé das pessoas. 

Por muitos anos celebramos o Natal de forma bem simples em nossa casa, com poucas coisas porque era o que tínhamos, mas isso nunca diminuiu nossa alegria e empolgação pelo Natal. Guardávamos o melhor para compartilhar à mesa nesse dia, reservávamos os presentes pra causar maior impacto na entrega, enfeitávamos o que podíamos. Nossos filhos sabiam que não eram o centro das atividades, tudo era para Jesus.

Não queremos incentivar um Natal de fábulas, um Natal de Holywood, ou um Natal vazio e regado a comilança. O centro do Natal tem que ser Jesus, o amor de Deus pela humanidade e o Deus Emanuel, como na mensagem de Natal em nossa igreja… O Deus que escolhe amar. O menino não ficou na manjedoura, ele foi para a cruz, mas é certo que para isso ele teve que nascer como homem, aceitar a humanidade, fazer parte de uma cultura cheia de símbolos e significados e, em meio a tudo isso, imprimir na humanidade as Boas Novas do Reino de Deus, uma nova cultura, puro milagre! 

Respeitamos a opinião e a decisão de muitos cristãos em não utilizarem qualquer simbologia ou celebração no Natal. É verdade que Jesus precisa estar em nossa casa o ano todo, em nossas conversas, em nossos relacionamentos e em nossas decisões, mas eu pessoalmente me empenho para que nas poucas oportunidades em que nossa cultura brasileira cheia de misticismos permite (Natal e Páscoa), colocar Jesus em evidencia por meio de símbolos, de mensagens e de atitudes. Um hino que amo diz o seguinte: 

Exultem oh povos alerta ao sinal… 
no céu uma estrela anuncia o Natal,
milícias celestes vestidas de luz
Proclamam “nasceu o menino Jesus”.

É assim que exulto, com muita oração, cânticos, presentes, enfeites, aromas na cozinha e muita gratidão ao Deus Emanuel, puro milagre!

Ieda Bochio © 2018

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Ieda Maria Siebra Bochio é membro do Ministério Razão Para Viver, atuando na área de capacitação de lideranças e organizações cristãs, juntamente com seu esposo, Pr. Fernando Bochio. Participa na produção de materiais do ministério e no aconselhamento de ouvintes. Professora e Palestrante, Ieda é Doutora em Ciências, Mestre em Saúde Pública e Especialista em Sexualidade Humana pela Universidade de São Paulo - USP-SP, e Especialista em Administração de Sistemas de Saúde pela FGV-SP. Casada há 40 anos com o Pr. Fernando Bochio, eles têm três filhos: Diogo, casado com Veronica e pais de Alice e Isabel; Heidi, casada com Stephen e pais de Thomaz e Abgail; Miriam, casada com Fernando. Ieda é uma apaixonada por livros, considera que cantar e tocar piano são as suas linguagens da alma, brincar com os netos e cuidar de plantas são sua grande distração e andar de moto com o esposo o seu desafio de fé!